Entre na casa de Dirk Lohan

Quando o arquitecto e designer Dirk Lohan vivia em criança na Alemanha no início dos anos cinquenta, os fotógrafos de Chicago Hedrich Blessing enviaram à sua mãe impressões dos monumentais edifícios de apartamentos que o seu avô tinha desenhado nesta cidade dos Estados Unidos. O avô de Lohan, o incontornável Mies van der Rohe, já tinha concebido o apartamento dos seus pais nos arredores de Berlim, mas estes edifícios em aço e vidro eram algo diferente. "Onde vivíamos, não tínhamos nada disto. Não havia arranha-céus ou Grandes Lagos. Disse para mim próprio na altura 'um dia hei-de viver lá'", refere Dirk Lohan, que fixou as fotos dos edifícios na parede do seu quarto como os seus amigos pendurariam a foto de uma estrela de cinema.



Em 2013, esta visão de infância tornou-se realidade. Dirk, a sua mulher Cathy, e impressionante colecção de arte e mobiliário - incluindo vários originais de Mies van der Rohe - ocuparam a penthouse com vista privilegiada para o Lago Michigan e o horizonte urbano de Chicago. "Adoro viver aqui. Sinto-me tão ligado à natureza e ao clima", refere Dirk. "Sou um marinheiro desde há muito. Adoro olhar para o lago. Consegues ver de onde o vento está a soprar observando o padrão das ondas. Quando as chegam, quase que parece que estamos dentro de um barco".



É evidente que o apartamento foi desenhado para tirar partido das impressionantes vistas em todas as direcções. No interior, a colecção de mobiliário ergue-se numa escala humana em relação à paisagem, criando um ambiente acolhedor para o arquitecto e a sua mulher Cathy, uma designer de interiores. As memórias do seu avô são visíveis por todo o apartamento, em especial através do mobiliário. Para além da mesa de refeições que herdou de Mies, onde o casal recebe regularmente amigos e família, é possível encontrar as elegantes cadeiras MR, várias poltronas Barcelona com uma bonita patina e poltronas Tugendhat assinadas pelo autor. O apartamento também é povoado por outras criações intemporais de designers reconhecidos, como a poltrona Egg de Arne Jacobsen, a mesa de centro de Isamu Noguchi ou o sofá Tufty-Time de Patricia Urquiola.

O apartamento é o culminar de uma vida em que o seu avô foi uma grande referência a nível pessoal e profissional. Apesar de não ter conhecido Mies van der Rohe até o famoso arquitecto ter voltado dos Estados Unidos para uma visita à sua Alemanha natal, após ter escapado do país devido à guerra, Dirk refere calorosamente que apesar da sua mãe nunca ter admitido, sempre organizou as coisas para que fosse exposto à influência do seu avô. Nesse primeiro encontro com Mies, quando o jovem Dirk tinha 14 anos, o génio do arquitecto acabaria por moldar o seu futuro, seguindo as pisadas do seu avô. Primeiro foi para os Estados Unidos estudar arquitectura para o Illinois Institute of Technology sob tutela do seu avô, e depois trabalhando com Mies em projectos como o edifício IBM em Chicago ou a Neue Nationalgalerie em Berlim. Nas décadas seguintes, ao leme de algumns dos ateliers de arquitectura mais reconhecidos, Dirk Lohan construiu um impressionante portfólio de projectos culturais e comerciais nos Estados Unidos e internacionalmente.

Em modo de conclusão, Dirk Lohan refere com uma gargalhada: "Sempre disse para mim próprio que não queria ser um historiador do Mies, mas ele está por todo o lado. É divertido pensar nas nossas memórias, adoro falar sobre ele".